28 de março de 2008

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27 de março de 2008

Capítulo 2


A Estrela


A Estrela – Carta XVII do Tarô – Sugere a boa sorte. A esperança. O amor. É de fé que se constrói um novo lar...

Metamorphosis - Sulamith Wulfing

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Suspirou de dor e cansaço. Sentou numa pedra, a que não havia percebido antes, e chorou.

Não se sabe como aconteceu, nem quando. Talvez o suspiro quebrado. Naquele instante em que se prende o ar. Quando o peito dói, quando dá alívio. É provável que tenha acontecido quando de olhos fechados, a fim de desfazer a visão embaçada que tinha. A Terra sem tempo nasceu da lágrima e do sangue de Ajne tocando o chão. Quando seu queixo pingou onde o filete vermelho descia-lhe a perna. No ponto úmido e rubro. Ao pé da pedra, nasceu, assim, um caule mínimo, com folhas menores ainda. E cada uma trazia consigo as cores do mundo novo. O vento veio e trouxe a primeira nota de aconchego. O silêncio cantava a temperança.

Perdeu-se enfim, e encontrou a paz.

Ajne dormiu embalada pela Caridade. A primeira a chegar ao novo lar. Seu rosto estampava um riso simples, singelo. O riso do recomeço. Ajne já não sangrava. Deixara os dias antigos fora do véu.

Ao abrir os olhos, tantas cores e luzes, que não pôde continuar e fechou-se mais uma vez. Com os olhos cerrados, sentiu o vento dançando com seu vestido. Ria da brisa entre seus dedos, por trás da sua orelha. Ria por não saber onde estava. Ria para não chorar. E se o fizesse, naquele instante, seriam lágrimas doces. Por acreditar-se só e perdida, ria também por desespero. Outro sopro então. E o medo, em rodopio, se desfez. Já não era a mesma. Nada carregava consigo. Tinha, apenas, a certeza absoluta de finalmente estar em casa. Luz nas mãos; cores infinitas nas pontas dos dedos e, amor e música faziam de seu peito carrossel.

E veio a Fé. Lenta e firme. Dedicada e fiel. Juntou-se a Caridade. Agora Ajne tinha a quem dar as mãos. Despiu o vestido sujo. E junto com ele, a angústia. Foram as três ao córrego que surgira. Onde a segunda lágrima caiu. Fé e Caridade banharam Ajne. A água lavava as dores e levava qualquer resquício de materialidade. Já não era envoltório. Livre do casulo que nem sabia ter. Ajne era quem sempre deveria ter sido, A Fada. Elas, as três Graças, trouxeram mais música à correnteza que cantava.


17 de março de 2008

Capítulo 1


A Torre


A Torre – Carta XVI do Tarô – Sugere o fim. A destruição. O desastre. Mas há quem acredite no recomeço...


Titânia dormindo - Arthur Rackham

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Era madrugada. Quase sempre é essa a lembrança. Já faz tanto tempo, que poderia ser noite, ou mesmo, ter o sol alto, de uma tarde quente. Mas em dias de chuva forte, os que não dançam gostam de lembrar como Ajne chegou a Terra sem tempo. Nesses dias, a versão mais ouvida é a da hora da iminência.

Não havia orvalho pesando nas folhas quando o véu se abriu. Não há certeza nem sobre a existência das folhas. A espera. O que ainda não aconteceu. A matéria que dá forma ao porvir.

Deixara a certeza na cama desfeita; a esperança na porta que não teve tempo de fechar; o amor nas cartas não enviadas. Trouxe a agonia no bolso direito; o medo, no esquerdo; a solidão na barra do vestido. O sangue que lhe escorria quente, correria frio em suas veias. Nada mudaria as horas passadas.

Antes. Escolheu com primor a roupa, o perfume – de flor de laranjeira -, as palavras que seriam ditas. Calculou as reações. Ensaiou até a exaustão as caras e bocas que faria. Não precisou de nada disso. Perdeu. Simplesmente.

Ele. Rude. Acreditava-se detentor da razão, do poder e dela. Não era digno do amor oferecido. Tomou de assalto o que queria. O que lhe era importante. Ela sempre que fora uma boneca. Obediente, calada e decorativa. Agora não mais.

Sem trilha alguma, o campo era escuro o suficiente para acreditar que permaneceria perdida. A névoa fazia trança em seus pés, escondendo raízes e deixando seu vestido mais sujo a cada queda. Nenhum cavalheiro. Não se tratava de uma cantiga de roda. Não conseguia mais correr. Não tinha mais passos, nem determinação para isso e, vagava buscando caminho nenhum. Não tinha mais casa. Ou qualquer outro lugar que lhe parecesse um lar. Choraria, se isso mudasse algo. Mas nenhuma lágrima aqueceu seu rosto àquela hora.

Ajne fugia de uma lembrança. A que doía mais que todas as outras juntas. Não havia mais nada que pudesse fazer. Tão vívida que lhe sugara o pulso. Por mais que corresse, a lembrança continuava como um maldito filme, repetindo-se sempre, e cada vez mais nítida, em seus olhos abertos e cansados. Até que por um segundo não viu nada. Parou. O mundo. A dor. O tempo.

E finalmente estava em casa.







11 de março de 2008

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10 de março de 2008

Super-ego•Ego•ID


Experimento...

1 de março de 2008

Minha chuva


para Frank Miller