28 de novembro de 2007

Bem querer

E eu, de tanto amor por um liquefeito. De antes ser cascata, ou rio, ou o mar inteiro. Eu de tanta chuva. Hoje sertão. Caatinga. Terra seca. Chão rachado. Nada. Nem uma gota. Acabou-se qualquer indício de umidade. Eu, de rosto molhado. De nariz vermelho. De visão embaçada (não pela miopia). Hoje seca. De um pó fino e leve, uma cinza de outra cor que me espalha através do tempo. Seca. E não há nó que me comova. Nem nós dos dedos que foram juntos. Nem juntas todas as outras histórias tristes de uma vida que não é mais minha.


De tantas voltas, minha saia gira e meu corpo voa. De muito pouco peso. Quase pólen, quase nada. Semeio as letras e colho versos de rir. Rir sim. Chorar não mais. Outros tempos, esses de ter lágrimas. Hoje eu tenho mais é gérbera no jardim e música na alma. Não sei se isso é ganho. E o porvir não vai me esperar nunca. Cansei um pouco. Cansei do pouco. E começar de novo, mais uma vez e sempre... começar... talvez o início também não me espere. Começar. Talvez do início. Talvez de onde eu parei. Agora, uma inércia assustadora me convida ao nada. Eu quero é me perder.


Sou mais sonho. De uma cama fluida, quase água. De amor tanto, quase vento. De vontade pouca. E de pedra. A mão no queixo, a cabeça torta. Os olhos vagos... de esperar. De nunca fazer. De ameaçar o amanhã todos os dias. De vontade. De apagar a luz, fechar a porta e abrir o gás. De esperar a vontade passar e começar de novo. E de pensar em começar me canso. Aceito o convite. E por mais que eu me perca. Ainda, a saudade. Ainda há saudade.
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*(Bem querer - Chico Buarque/1975)
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Vocês trazem alegria para esta casa.

Um comentário:

Anônimo disse...

Show loira! ^^